Mosteiro das Sete Formas, 28 de Calistril de 4586 AR (parte II)


“Por favor, cuidem deste bebé. O seu nome é Ayalal Duruvan.”


A directora pousou o fragmento de pergaminho sobre a mesa da cozinha, junto a uma bolsa de dinheiro aberta. Contara nela 50 moedas de platina – uma quantia imensa. Lançou uma mirada ao bebé, amparado nos braços de Lysa, junto à lareira. A adolescente falava com ele, baixinho, enquanto esperava que o calor lhe desse um pouco mais de ânimo.

– Duruvan… – O apelido nada lhe dizia. No entanto, fosse qual fosse a família, certamente tinha dinheiro, e aquele daria muito jeito.

– Ele é tão claro, senhora Drane – notou Lysa. – Será um mestiço de que raças?

– Por agora é o que menos interessa – cortou. O tom da directora era duro. Raramente a ouviam falar de outra forma. – É um bebé. Tomaremos conta dele, até ser crescido. Ficará à tua responsabilidade.

– Minha?! – lançou um olhar estupefacto, por cima do ombro.

– Trata de lhe procurar uma ama-de-leite. O berço será posto junto à tua cama. Não o quero a chorar durante a noite.

Os lábios de Lysa abriam-se e fechavam-se, lembrando um peixe fora de água, enquanto pensava em como esquivar-se às ordens. Mas sabia que não havia escapatória possível, e queria tudo menos ser punida por desobediência.

Suspirou e voltou a olhar o recém-nascido. Ele remexeu-se entre o tecido que o envolvia, de bochechas um pouco mais coradas pelo calor do fogo. Soltando um resmungo, começou a acordar. Quando, por fim, o pequeno abriu os olhos, fitaram-se mutuamente, e ele não pareceu nada agradado com a vista. O seu rosto começou a contorcer-se numa careta e, pouco depois, um choro agudo encheu a cozinha do orfanato.

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